Jardim Europa, o filme | Inácio Araujo – Folha de S.Paulo – Blogs


Jardim Europa

Em “Jardim Europa” não será fácil notar uma série de defeitos, que vão desde a câmera na mão trepidante em certos momentos, a uma certa pobreza da produção a que se pode atribuir um desenvolvimento por vezes precário dos personagens.

Tudo isso é meio fácil.
Mas tomo uma cena isolada.Um café da manhã.
Uma bela mesa posta, com suco de laranja e tudo mais.
E o espectador imediatamente pergunta: mas quem fez tudo isso?
Porque não vemos um só empregado na casa daquela família falida.
E também não vemos sinal de que alguém da casa tenha produzido aquilo.

Esse mistério da mesa posta encerra as virtudes do filme.

Lá temos os personagens: na família falida, há um candidato a escritor, uma garota que gosta de correr pela vizinhança, uma outra que só pensa em estar longe dos outros e a mãe destituída de sua antiga riqueza.

Além deles temos um livreiro, que delega a arrumação dos livros a um lúmpen completo.

O livreiro tem uma irmã histérica.

Resultado do encontro dessa gente: entre ex-ricos e classe média, somos todos incapazes de pegar no pesado, de executar algum trabalho físico (inclusive fazer o café da manhã).

O único que se dispõe a trabalhar, o lúmpen, é um ser primitivo, ou reduzido a uma condição de sub-humanidade por deficiências diversas.

Essa desconexão entre trabalho e intelecto me parece o coração desse filme que tem uma vitalidade e uma percepção das coisas que eu gostaria de ver com mais freqüência nos filmes brasileiros (e cá entre nós, de uns tempos para cá nos estrangeiros a coisa não anda assim tão melhor).

Fonte: Blog Inácio Araújo
Link da matéria: http://inacioaraujo.blogfolha.uol.com.br/2014/09/26/jardim-europa/

<p>Em “Jardim Europa” não será fácil notar uma série de defeitos, que vão desde a câmera na mão trepidante em certos momentos, a uma certa pobreza da produção a que se pode atribuir um desenvolvimento por vezes precário dos personagens.</p><p>Tudo isso é meio fácil.</p><p>Mas tomo uma cena isolada.Um café da manhã.</p><p>Uma bela mesa posta, com suco de laranja e tudo mais.</p><p>E o espectador imediatamente pergunta: mas quem fez tudo isso?</p><p>Porque não vemos um só empregado na casa daquela família falida.</p><p>E também não vemos sinal de que alguém da casa tenha produzido aquilo.</p><p>Esse mistério da mesa posta encerra as virtudes do filme.</p><p>Lá temos os personagens: na família falida, há um candidato a escritor, uma garota que gosta de correr pela vizinhança, uma outra que só pensa em estar longe dos outros e a mãe destituída de sua antiga riqueza.</p><p>Além deles temos um livreiro, que delega a arrumação dos livros a um lúmpen completo.</p><p>O livreiro tem uma irmã histérica.</p><p>Resultado do encontro dessa gente: entre ex-ricos e classe média, somos todos incapazes de pegar no pesado, de executar algum trabalho físico (inclusive fazer o café da manhã).</p><p>O único que se dispõe a trabalhar, o lúmpen, é um ser primitivo, ou reduzido a uma condição de sub-humanidade por deficiências diversas.</p><p>Essa desconexão entre trabalho e intelecto me parece o coração desse filme que tem uma vitalidade e uma percepção das coisas que eu gostaria de ver com mais freqüência nos filmes brasileiros (e cá entre nós, de uns tempos para cá nos estrangeiros a coisa não anda assim tão melhor).</p><p>&nbsp;</p>

 

 

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